domingo, dezembro 25, 2005

Viajando no Natal

Este Natal, para mim, muito mais do que um tempo de presentes e consumismo desenfreado, foi sobretudo uma data repleta de reflexão e apreciação das coisas, em especial todas aquelas que dizem respeito aos seres humanos.

O que a humanidade tem de tão especial? Muito daquilo que consideramos tão incrível sobre nossa própria espécie não é característica exclusiva dela. A inteligência, por exemplo, aparece em muitos outros animais, como alguns chimpanzés. Em um determinado período de seu desenvolvimento, anterior à fase adulta, eles chegam a demonstrar inteligência superior à de um humano no mesmo período.

A sociedade também não é exclusividade humana, dado que existem também outros animais que vivem em sociedades, algumas delas extremamente complexas, com os papéis mais variados.

Porém, existe um traço marcantemente humano que é representado pelo símbolo, pelo protagonista que é essa festa do Natal: o menino Jesus. O ícone do Natal é um bebê, e isso tem significados profundíssimos, para os quais peço a atenção até mesmo dos amigos que não são cristãos. O que um bebê teria de tão especial, que os filhotes de outras espécies não têm?

É muito simples: nossos bebês são provavelmente os filhotes mais indefesos e frágeis que existem. E eles o são por um período incrivelmente longo. Porém, é nesta aparente fraqueza que reside a definição da humanidade. Como os bebês são indefesos, e por tanto tempo, é preciso cuidar deles, dar-lhes atenção constante. E eis que por causa disso se organizam as famílias, e em decorrência delas, a cultura. É justamente por isso que temos uma cultura tão vasta, com todas as artes e ciências.

Portanto, que neste fim de ano, e em todo o tempo que há por vir, nós tenhamos em vista que as famílias são o que temos de mais importante, nunca nos esquecendo do menino Jesus, que nos mostra que a nossa força está na 'fraqueza'. Porque isto tudo não é misticismo ou sentimentalismo barato. É a mais pura verdade.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

'Zen' nossão

Quando você se encontrar deficiente em conhecimento, não é o momento de procurar aulas e livros, mas sim de ensinar as pessoas ao seu redor.

segunda-feira, outubro 31, 2005

quinta-feira, outubro 20, 2005

Filho do meu pai

Absolutamente DELÍCIA o álbum novo do Wolf Parade, Apologies to the Queen Mary. Assim como 99% das bandas relevantes do presente momento, os caras vêm de Montreal. Fazem um som sem frescuras, sem medo de ser pop, capaz de te levantar o ânimo.
Surge-me a pergunta: o que diabos você está fazendo, perdendo tempo lendo esse blog, e não está ouvindo/googlando etc esse som?

Falando em pai, eu ainda não falei isso pra ele, mas ele está indo hoje pro nordeste, e vai ser complicado pra caramba, por menos que nos falemos durante a semana.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Club anti-social

Era uma vez um menino que gostava de uma menina. Aí um belo dia ele soube que ela gostava dele. Na noite que se seguiu à descoberta, ele sonhou que havia mandado um e-mail para ela, se declarando e marcando um encontro. Ele acordou, e como o sonho foi tão real, achou que tinha de fato mandado o e-mail. Então eles nunca se encontraram.

Harry Potter

Estou lendo Harry Potter. É até legal, só que tem muita pottaria. A juventude de hoje está muito mudada.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Guaxinim

Uma das coisas que me deixa feliz hoje é o lançamento da nova versão do Ubuntu Linux, a 5.10 (Breezy Badger). Não sei como, mas parece que cada vez mais os caras conseguem deixar essa ótima distribuição ainda mais amigável e "redonda". Vale a pena conferir!

"Namorando"

Os leitores desse blog provavelmente sabem que eu não estou namorando. Mas hoje eu resolvi seguir uma idéia bizarra de um amigo e botar 'namorando' no perfil do orkut, só pra ver como ficava. Afinal, eu nunca tinha feito isso antes.
Vou deixar assim por um tempinho, só a nível de experiência, e futuramente comentar os resultados (como por exemplo scraps incrédulos) com quem estiver interessado.

Yeah, I'm weird!

quinta-feira, outubro 06, 2005

sexta-feira, setembro 30, 2005

Panquerroque

Depois de ter assistido, ontem, à opera Don Giovanni, em Campinas, resolvi pesquisar um pouquinho mais e descobri algumas coisas bizarras. Uma delas é essa música do Rancid em homenagem ao bom 'Dongio'. Comé que pode?

quinta-feira, setembro 22, 2005

Desarmamento

Bom, pessoal: em primeiro lugar, tenho praticamente certeza que o desarmamento seria uma medida que traria, na melhor das hipóteses, um benefício insignificante.

Digo isto porque as únicas mortes capazes de ser evitadas pelo desarmamento seriam apenas aquelas causadas por acidentes com a arma de um portador, por legítima defesa de um portador de arma, ou ainda aquelas cometidas por criminosos portadores de arma.

Ora, verificando-se as estatísticas, é fácil perceber que tais mortes compõem uma porcentagem ínfima daquelas causadas por arma de fogo, principalmente porque criminosos não são (legalmente) portadores de arma. Se levarmos em conta que a implantação de uma medida como o desarmamento custa caro, veremos que trata-se de um típico caso de mau uso do dinheiro público, que poderia ser melhor investido, em medidas mais capazes de reduzir a mortalidade.

Porém, se analisarmos mais friamente, podemos perceber que o desarmamento potencialmente trará um impacto negativo, visto que desarmará cidadãos aptos a se defender. Prefiro acreditar que esse impacto negativo será pequeno.

Dessa forma, volto-me à questão do referendo: por que diabos a opinião do povo está sendo consultada quanto a essa questão, sendo que há, sem dúvida, outras mais importantes, cujas decisões podem trazer impactos muito maiores sobre a população? Como se não bastasse, os gastos para a realização deste referendo serão e já estão sendo altíssimos, da ordem de centenas de milhões de reais, o que é totalmente inaceitável dado a sua limitadíssima importância.

O fato é que somos todos vítimas de um ardiloso complô. Retomemos as estatísticas: elas nos apontam que o número de mortes por armas de fogo tem caído constantemente nos últimos tempos, e a tendência é que continue a diminuir.

Pois bem, se realmente o povo votar a favor do desarmamento, estará fazendo o jogo do governo: este posteriormente se utilizará das estatísticas citadas acima para mostrar ao povo o quanto o desarmamento foi uma boa medida (apesar de esses resultados não terem sido causados por ela), elevando dessa forma a sua já tão abalada credibilidade.

Finalmente, o referendo se encaixa em toda essa armação por ser justamente uma forma eficientíssima de passar adiante a responsabilidade pelo desarmamento, livrando o governo de críticas (já que a decisão terá sido tomada pelo próprio povo) e dificultando a percepção da tramóia toda.

Portanto votem contra o desarmamento. Mas com a consciência de que já perdemos, de qualquer modo, porque a dinheirama toda gasta até agora não será recuperada.

domingo, setembro 18, 2005

Estranho

Stranger Song
(Leonard Cohen)

It's true that all the men you knew were dealers
who said they were through with dealing
every time you gave them shelter
I know that kind of man
It's hard to hold the hand of anyone
who's reaching for the sky just to surrender,
who's reaching for the sky just to surrender.

And then sweeping up the jokers that he left behind
you find he did not leave you very much
not even laughter
Like any dealer he was watching for the card
that is so high and wild
he'll never need to deal another
He was just some Joseph looking for a manger
He was just some Joseph looking for a manger

And then leaning on your window sill
he'll say one day you caused his will
to weaken with your love and warmth and shelter
And then taking from his wallet
an old schedule of trains, he'll say
I told you when I came I was a stranger
I told you when I came I was a stranger.

But now another stranger seems
to want you to ignore his dreams
as though they were the burden of some other
Oh you've seen that man before
his golden arm dispatching cards
but now it's rusted from the elbows to the finger
And he wants to trade the game he plays for shelter
Yes he wants to trade the game he knows for shelter.

Ah you hate to see another tired man
lay down his hand
like he was giving up the holy game of poker
And while he talks his dreams to sleep
you notice there's a highway
that's curling up like smoke above his shoulder
It is curling just like smoke above his shoulder.

You tell him to come in sit down
but something makes you turn around
The door is open you can't close your shelter
You try the handle of the road
It opens, do not be afraid
It's you my love, you who are the stranger
It's you my love, you who are the stranger.

Well, I've been waiting, I was sure
we'd meet between the trains we're waiting for
I think it's time to board another
Please understand, I never had a secret chart
to get me to the heart of this
or any other matter
When he talks like this
you don't know what he's after
When he speaks like this
you don't know what he's after.

Let's meet tomorrow if you choose
upon the shore, beneath the bridge
that they are building on some endless river
Then he leaves the platform
for the sleeping car that's warm
You realize, he's advertising one more shelter
And it comes to you, he never was a stranger
And you say ok, the bridge or someplace later.

quarta-feira, agosto 24, 2005

É a vida fácil...

Hoje eu vou tentar fazer uma coisa lôca. Só adianto isso. Tive umas idéias recentemente, e quero ver se elas de fato procedem. Só experimentando mesmo é que vou saber. A verdade é que, se tudo der certo, podem aguardar um texto looooongo aqui no blog. Keep coming (no bom sentido, é claro).

quarta-feira, agosto 17, 2005

Pornô

Há alguns meses eu havia recebido a interessante notícia de que a ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, uma organização não-governamental que regulamenta nomes e números dos endereços da internet) havia aprovado uma proposta de criar diversos novos gTLDs (generic Top Level Domains, aqueles sufixos dos endereços de sites, como .com, .net, .org e afins), entre eles o controverso .xxx, que seria destinado para sites de pornografia (ou, como diz a proposta, 'conteúdo adulto').

Pois bem, isso me fez pensar nas implicações que a implantação de um sufixo .xxx teria. A função mais ingênua dele, a princípio, seria um ganho organizacional na internet: termina com .xxx, então é pornografia. Tornaria mais fácil a vida de quem quer ver pornografia, e a de quem não quer, também. É justamente aí que a coisa começa a se tornar um bocado menos ingênua: fica muito fácil bloquear o acesso a esse tipo de conteúdo, o que potencialmente prejudicaria a indústria do 'entretenimento adulto'. Não estou defendendo-a, mas acho difícil não pensar que a decisão de criar esse novo sufixo tenha sido motivada por algum paternalismo barato, do tipo "vamos PROTEGER o internauta dos HORRORES DA PORNOGRAFIA."

Porém, ontem veio a notícia mais engraçada a respeito disso tudo: o governo Bush resolveu intervir na decisão da ICANN, de modo que a comercialização dos primeiros domínios terminados em .xxx será adiada por pelo menos um mês, até que se decida quanto à sua validade.

Realmente, eu não pensei que o Bush fosse tão burro. Caracas, acho que até hoje ele foi o cara mais anti-pornô, além de paternalista extremo, a ocupar o trono estadunidense. E não percebeu que a criação do .xxx está completamente de acordo com suas idéias moralistas, adiando-a como se fosse algo ruim. Pensando bem, acho que o Bush é tão escrotão que ele prefere não admitir publicamente que existe pornografia na internet, ou que pode haver, fato esse que seria 'oficializado' com a implantação do novo sufixo. Isso, claro, apesar de ser um fato óbvio para qualquer pessoa que viva neste planeta. Estou falando nisso apenas para tentar entender o que se passa na mente do sr. Arbusto.

Outra coisa engraçada nessa história toda é que ainda não sabemos se os domínios terminados em .xxx terão boa adoção, isto é, se os atuais sites de pornografia irão 'atualizar' seus domínios .com ou .net para os novos .xxx! Afinal, eles não são obrigados a fazê-lo, e isso derruba um bocado a idéia de reunir toda a pornografia da internet sob um único sufixo. E, claro, como se não bastasse, as estatísticas apontam que a maioria esmagadora do conteúdo pornográfico da internet circula ilegalmente através de redes P2P (peer-to-peer ou ponto-a-ponto, como KaZaA, eDonkey e bittorrent), sobre as quais o controle é muito difícil, até porque o acesso a elas não é feito através de domínios registrados, como é o caso dos sites. Ou seja, não é com o .xxx que a pornografia na internet será controlada.

Portanto, por incrível que pareça, dessa vez eu até concordo com o Bush: domínios .xxx não são uma boa idéia. Porque realmente não servem pra muita coisa. Mas sei lá, vamos ver no que isso tudo vai dar...

Ah, tenho mais uma pergunta pertinente: o que diabos aconteceria se eu registrasse em meu nome o domínio microsoft.xxx? ;-)

terça-feira, agosto 16, 2005

Jogos violentos

Muito já se falou do quanto jogos de videogame ultraviolentos contribuem para o aumento da violência. Inclusive alguns desses jogos ficaram famosos porque foram crucificados pela mídia, a qual citou-os como causa (in)direta de algumas catástrofes que não sairão da memória com muita facilidade.

Lembro-me muito bem de duas delas, bem famosas e de grandes proporções: o tiroteio de Columbine, nos EUA, cuja 'inspiração' teria sido o jogo Doom, e o tiroteio num cinema em São Paulo, este último 'inspirado' pelo jogo Duke Nukem 3D, igualmente violento.

O que mais me impressiona no tratamento que a mídia dá a esses desastres é uma aparente necessidade de ter ou encontrar (super)vilões, absurdamente nefastos, disformes, maiores do que a realidade. E é justamente aí que os jogos violentos se encaixam perfeitamente. Eles são terríveis, fazem com que os jogadores fiquem com idéias psicopatas, que eles queiram sair por aí atirando nas pessoas... Será mesmo?

Até onde entendo, e acho difícil que um psicólogo não concorde comigo, apenas os jogos violentos não seriam capazes de induzir esse tipo de comportamento nas pessoas. O que aconteceu, portanto, nos casos de Columbine e do MorumbiShopping, é que eles serviram como sintoma ao invés de causa: isto é, o apego exagerado por esse tipo de jogo só veio demonstrar a péssima condição psicológica dos assassinos.

Isso acontece em menor grau com muitas pessoas por aí, que acabam se tornando viciadas em alguma coisa (jogos de videogame ou computador de todos os tipos são ótimos exemplos) como sintoma de algum problema psicológico que elas tenham. É importante, então, ficar atento a esse tipo de comportamento, já que ele pode até apontar um quadro de depressão, ou ainda algo mais sério.

Apesar de tudo, não estou defendendo o uso gráfico e explícito que se faz da violência nos videogames, cinema, televisão e afins. Mas apenas apontando que ele não é causa de nada, e sim uma simples conseqüência. Seria possível argumentar que há, sim, algo que todos esses jogos e filmes causam: a banalização da violência. Porém, fica a pergunta: será que isso não seria apenas reflexo (e, portanto, sintoma) de um padrão dos nossos tempos, que banaliza absolutamente tudo?

O exagero é cada vez maior, seja em relação à violência ou à pornografia. É preciso sempre superar o que foi feito anteriormente para que se obtenha uma resposta significativa do público, que se acostuma com aquilo que um dia foi considerado realmente violento, pornográfico, limítrofe. O grande problema aqui é que não me parece que seja uma situação sustentável, acho que em um dado momento será impossível passar dos limites, romper barreiras. E aí, o que acontece com a sensibilidade?

segunda-feira, agosto 15, 2005

Segunda-feira

Hoje foi um dia bem típico, uma segunda-feira como outra qualquer. Daquelas que teoricamente não merecem comentários nem em blogues. Mas "na verdade, isso não é verdade." Não existem dias pessoas coisas desinteressantes, apenas ocorre que nós perdemos o interesse por elas. Às vezes. Mas sempre existem os detalhezinhos que fazem a piada.

Por exemplo: a primeira música que ouvi nesta segunda-feira chama-se 'Saturday'. Sei lá o que isso quer dizer. Não estou insinuando nada. Mas é inusitado, temos de concordar.

Tive também umas idéias para fotos, para umas brincadeiras de Photoshop, programei um bocado, desviei mais uma vez do pedágio... E agora estou escrevendo no blog. Trivialidades mesmo, as quais eu costumava evitar escrever, mas que na verdade, são tão interessantes quanto quiser o leitor. Quem estiver lendo isto aqui pode ter certeza que vai haver muito o que ler, de agora em diante, pois pretendo 'blogar' bastante.

E claro, quem sabe, no meio de todas essas trivialidades, não apareça uma idéia realmente boa de vez em quando...

quarta-feira, abril 27, 2005

Felicidade & outras coisas com F

Felicidade tem a ver com valores, os quais podem inclusive ser monetários, mas raramente são. Esses valores estão presentes nas pequenas coisas da vida. Nas grandes também. Estão presentes no simples ato de andar por aí, sem rumo. Ou ainda, andar com rumo. Eles aparecem até mesmo quando você, por exemplo, descobre que uma pessoa de que gosta bastante escreveu um texto novo no blog, e também na experiência que essa pessoa teve em escrever o texto.

Pois bem. Certamente algo que se diferencia nas pessoas é a sua capacidade de apreciação desses valores. Não pretendo ser simplista a ponto de dizer aqui que isso é o que faz certas pessoas serem felizes e outras não serem, até porque não tenho a menor idéia de quem é feliz e quem não é, nem acredito que felicidade seja algo mensurável, nem mesmo vagamente. Mas, por outro lado, imagino que essa capacidade de apreciação é o que dá à felicidade de cada pessoa um caráter diferente.

Isso explica porque, para mim, dividir com uma pessoa especial o espaço de um guarda-chuva enquanto caminho pelo campus chuvoso ao lado dela é um momento infinitamente mais delicioso e apreciável do que, por exemplo, saborear a mais requintada trufa belga. Tudo isso tem a ver com a modo de apreciar o valor que há nesses momentos.

É evidente que alguns desses valores nós apreciamos mais do que outros, como no exemplo, mas a verdade é que devemos nos concentrar em apreciá-los ou então corremos o risco de estar, de certa maneira, ausentes de momentos que podem ser muito valiosos.

Tomemos o exemplo das crianças: elas têm uma apreciação bastante característica da sua realidade. Certa vez, li que todo esse fascínio com o meio deve-se ao fato de o mundo ser um grande desconhecido das crianças. Isto é, toda a sua maravilha e fantasia origina-se do pouco conhecimento que elas têm. O autor ainda dava-se ao trabalho de "provar" isso com um pequeno experimento mental: temos um bebê e um adulto na platéia de um mágico. O mágico então prossegue com o seu fabuloso truque, fazendo um caminhão desaparecer aos olhos vistos de ambos. O adulto fica maravilhado, pois sabe que caminhões não desaparecem. Enquanto que o bebê nada aprecia da mágica, pois não possui conhecimento suficiente para saber que é algo extraordinário um caminhão desaparecer desse jeito.

Ora, isso tudo é uma imensa bobagem. Em primeiro lugar, é muito possível que o bebê tenha se divertido bastante mais do que o adulto com essa mágica. Mas, independente disso, a verdade é que o bebê jamais teria como ter o pressuposto de que caminhões não desaparecem espontaneamente, o que não se deve ao pouco conhecimento de mundo que ele possui, mas sim ao fato de ele não possuir expedientes de pensamento capazes de estabelecer regras gerais ou relações de causa e efeito. Esses expedientes pertencem ao mundo adulto. Portanto, por mais caminhões que não desaparecem que sejam mostrados a essa criança, ela não irá estabelecer como fato extraordinário o desaparecimento de apenas um.

A verdade é que a apreciação da realidade, para uma criança, é bastante diferente. Mesmo que elas já tenham idade para conhecer muito do que os adultos conhecem, a relação delas com essas coisas é outra. O fato de um garoto saber que seu brinquedo é apenas um boneco de plástico não o impede de viver grandes aventuras com ele. Nesse caso a diferença de conhecimento não existe, mas a apreciação infantil será muito mais intensa e rica. Um simples peso de papel, totalmente sem graça, pode se tornar um porta-aviões, por que não?

Menciono esse exemplo das crianças simplesmente para mostrar que toda apreciação depende da gente agente que aprecia, e não do objeto. Em outras palavras, podemos dizer que a felicidade vem de dentro do ser humano, porque tudo que é externo a ele é de certa forma constante em termos do que pode lhe proporcionar. O que muda é a apreciação de cada indivíduo.

Penso então que devemos encarar as crianças como bons exemplos. Eu sempre entendi a filosofia como algo intrinsecamente ligado à apreciação do mundo e também de nós mesmos. Acredito que a reflexão profunda necessária para a filosofia é algo excelente pois exercita intensamente a nossa capacidade de apreciação e reapreciação das coisas, amplificando as experiências de maneira semelhante ao que faz o mundo da fantasia infantil. Encaro, portanto, a filosofia como uma arte de viver melhor a vida, como um conjunto de boas práticas que nos ajuda a não nos ausentarmos em relação à nossa própria felicidade.

E, como não podia deixar de ser, a fotografia, em minha opinião, quando praticada artisticamente, oferece boas metáforas para a nossa vida. Todo fotógrafo, ou melhor, todo artista da fotografia, não está, ao contrário do que possam pensar a maioria das pessoas, o tempo todo em busca de imagens, pois o mundo constantemente oferece a experiência visual.

A enorme simplicidade da prática da fotografia (geralmente basta apertar um botão) tem o efeito macabro de saturar ainda mais a experiência visual das pessoas. Afinal, com tantas imagens sendo produzidas e divulgadas rapida e amplamente, todos os dias, fica difícil não acontecer o contrário, e evidentemente, um artista não tem interesse em apenas produzir mais imagens, para que elas se percam entre os montes que há.

O artista, então, fica confrontado com um interessante paradoxo: deve produzir imagens sim, mas elas não podem ser apenas imagens, elas devem oferecer algo que permita ao apreciador a transcendência desse caráter imediatista de maneira que ele consiga se comunicar e, melhor ainda, se identificar, com a expressão desejada por esse artista.

Ademais, um bom artista é sempre capaz de fazer isso, independentemente do que ele fotografa e de como ele fotografa ou que equipamento usa. Ele simplesmente é um bom artista porque sua apreciação da realidade, da essência que há nos assuntos fotografados é extraordinária, bem como seu autoconhecimento é fantástico, pois ele sempre sabe o que dar de si a seu público, e como atingir seus objetivos expressivos.

Assim, acredito que viver bem depende mais ou menos das mesmas coisas: a capacidade de apreciar a essência dos acontecimentos, momentos, objetos, cenas, pensamentos e, principalmente, das pessoas ao redor, e também contar sempre com um bom conhecimento de si para saber sempre o que oferecer de realmente valioso e apreciável.

Filosofia, fotografia e felicidade são coisas muito curiosas. Elas só dependem, respectivamente, do filósofo, do fotógrafo e do feliz.

segunda-feira, abril 11, 2005

Let my mind go... out of tune...



Para que seja possível tocar sempre e bem, é preciso sempre prestar atenção à afinação...

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Phrase do dia

"Você percebe que está ficando velho quando vê seus BIXOS SE FORMANDO."

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Primeiras e últimas impressões

Muita gente diz, confiando cegamente no ditado bastante popular, que "a primeira impressão é a que fica". Não só discordo como também posso afirmar que são raros os casos em que meu primeiro julgamento sobre uma pessoa, obra de arte etc é o definitivo.

Digo isso porque vou aqui relatar uma das minhas recentes mudanças de opinião, que me marcou bastante pela rapidez que aconteceu, e, principalmente, pelo fato de ela ter sido assim tão extrema. Refiro-me aqui à minha experiência com o filme 'closer' (Perto Demais), do veterano diretor Mike Nichols.

Vi o filme ontem, em uma sessão vespertina, acompanhado de um grupo de bons amigos. Ao final, concordamos todos que se tratava de um filme extremamente 'pesado', de difícil digestão, por assim dizer. Mas de alguma forma, bom.

A verdade é que o meu lado resenhista falou mais alto, e, assim sendo, logo ía eu me juntando à massa de resenhistas de jornal e críticos, que consideraram o filme "uma visão cruel, pungente e desconcertantemente realista sobre os relacionamentos amorosos". Não li nenhuma das críticas até então, mas tenho certeza que a frase entre aspas caberia perfeitamente em muitas delas.

O roteiro de 'closer', uma adaptação de uma peça de teatro bastante aclamada (e premiada), trata de dois casais que seguem trocando traições e mágoas, tudo com o maior cinismo e crueza possíveis. O desfile de feridas abertas que é apresentado realmente é chocante, e foi o que me fez classificar o filme como realista.

Porém mais tarde, refletindo com mais calma e ponderação, é que percebi o quanto fui ludibriado. Um grande problema apresentado por certas obras de arte é a característica de se impor como realidade. É justamente esse caminho que 'closer' tenta explorar da maneira mais maliciosa possível: carregando no clichê do sofrimento exagerado e da auto-degradação, apelando para o repertório traumático do espectador.

Entretanto, eu não teria pensado nisso se o filme tivesse me convencido de sua relevância para a vida real. O que falta a ele não é a já citada crueza, nem coragem para discutir temas delicados. Falta simplesmente humanidade aos personagens: 'closer' parece que foi realizado por construção, composto exclusivamente de diálogos e situações montadas. É teatro, no sentido mais pejorativo da palavra, pois tudo não passa de encenação, de montagem. Em uma das cenas, o marido fala à esposa: "por favor, não vá dizer que eu sou bom demais pra você. Porque isto é uma verdade, mas não a diga". Ora, todos sabemos que pessoas reais não falam assim, mas no filme os diálogos são completamente baseados em frases de efeito.

Como se não bastasse, os diálogos pecam também pela quantidade. O filme é como se fosse uma discussão interminável, o que sem dúvida contribui para a sua artificialidade. Parece-me inclusive irônico que um filme com esse nome tenha dado preferência à assepsia do bla bla bla em detrimento do toque, da expressão da pele, da proximidade inclusive.

Os personagens, então, em muito colaboram com a distância presente em 'closer'. São absurdamente baseados em estereótipos: os homens são primitivos (inclusive sexualmente), competitivos, vingativos; enquanto que as mulheres são bastante mais maduras. Alice, a personagem menos culta e sofisticada, é a que tem um final mais favorável, como não poderia deixar de ser. Além do mais, a construção (ao contrário de criação) dos personagens também levou em conta, claramente, a crença de que a aspereza e o cinismo são marcas inconfundíveis de sofisticação em uma pessoa. O médico dermatologista Larry indica isso perfeitamente. Cruzes! Onde está o amor aos personagens? Eles sequer são interessantes, e também não oferecem nenhuma identificação, pois não é possível sentir pena deles em nenhum momento do filme.

Portanto, trata-se de um filme que tenta se impor como realista usando de um truque sujo. Fazendo um paralelo com o mundo da fotografia, seria o equivalente daquelas imagens de crianças passando fome na África. Por que diabos essas imagens seriam mais realistas do que as de um sultão envolto de luxos em seu palácio? Na verdade, é ainda pior, pois 'closer' tenta nos convencer de que situações claramente encenadas são a realidade, como se escrevêssemos nossas vidas de trás para frente, montando todos os acontecimentos com antecipação. Mas claro, poderia ser ainda pior, pois pelo menos o desfecho não tem aspirações a ser conclusivo.

Phoenix Down

É isso mesmo, pessoal. Estou revivendo o blog a partir de hoje.