domingo, dezembro 02, 2007

A vida

Todo mundo me pergunta como vai a vida. Ou quase todo mundo: pelo menos os amigos do Brasil. Então, acho que nada mais justo do que eu reabrir o blog com um post falando sobre a vida.

Enquanto eu estive nas trevas[1], eu fui escrevendo algumas coisas pra postar aqui no blog, pra dar aos amigos aquela sensação de "puxa! quantos posts novos!" e despertar aquela vontade de ler todos os posts, longos, fantásticos, inteligentes, perspicazes, cheio de curiosidades, enquanto devora-se um prato de miojo na frente do computador.

Pra esse post aqui, sobre a vida, eu estava fazendo um negócio rebuscado,começando com aquelas entradas de dicionário, do tipo "vida. s.f. bla bla bla bla bla bla bla Maravilhosa Cozinha de Ofélia bla bla bla bla", depois, no meio do texto, umas expressões em latim... enfim, essas coisas de quem escreve bem.

Mas aí, eu lembrei algo fundamental que estragou por completo essa minha idéia: eu não escrevo bem. Também não tenho um dicionário por perto pra copiar a entrada. E, quanto às expressões em latim, francamente, não tenho a menor noção de como usá-las. Para mim, mutatis mutandis parece coisa dos X-Men, por exemplo.

Isso tudo levou a uma mudança de planos: apaguei tudo que tinha escrito e estou começando do zero. Apenas os assuntos são os mesmos. E o assunto deste post é a (minha) vida (aqui nos EUA longe de (quase) todo mundo).

Sobre esse assunto, bem... eu sempre achei que a vida, assim como quase tudo (na vida), tem uma relação sinal/ruído, se é que vocês me entendem. Atualmente, a minha vida tem uma relação sinal/ruído de uns 70dB, ou seja, ela é, TIPO ASSIM, uma fita cassete Metal (tipo IV) com Dolby B[2], o que DÁ PRO GASTO. No ponto em que estou, não tenho do que reclamar.

O sinal é forte: tenho um bom emprego, estou alimentando-me bem mais decentemente, indo à academia com uma certa regularidade, perdendo peso, morando sozinho, consegui comprar todas as coisas legais que eu tava querendo... e, melhor ainda do que tudo isso, consegui encontrar-me com a Samara 2 vezes já!

Claro que aconteceram algumas merdas também. Duas, pra falar a verdade. Estranhamente (ou não), aconteceram meio que simultaneamente a coisas muito boas (daí a idéia de sinal/ruído): bati o carro (alugado) na mesma semana que a Samara esteve aqui pela primeira vez (mas ninguém se feriu, não foi nada sério) e também torci loucamente o pé no mesmo dia que a minha TV nova bacana chegou aqui em casa, e isso me fez passar a maior parte da semana mancando feito o dr. House, o que é uma coisa não muito boa, principalmente pra quem não tem carro e mora sozinho.

Basicamente é isso tudo que está acontecendo... mas sempre é bom lembrar que o que não está acontecendo também é importante e, talvez, até mais interessante. Mas sobre essas coisas, falarei em outro post. Até lá.





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[1] - Explicando um pouco a situação: estive em um apartamento temporário por 2 meses, antes de ir para um definitivo, que eu mesmo aluguei. Nesse apartamento, eu tinha uma conexão com a internet MAS não tinha computador, pois minha mudança ainda não tinha chegado (eu usava, esporadicamente, o Xbox 360 pra conversar no MSN). Depois, quando me mudei para o apartamento definitivo, já estava com o meu computador, mas aí já não tinha mais internet. Tive de esperar umas 2 semanas para a instalação: só hoje é que vieram instalar.


[2] - Os OITENTISTAS bem lembram do que estou falando. Naquela época, que a Cyndi Lauper estava arrebentando nas paradas, e até os últimos anos da década de 90, usava-se ARTEFATOS chamados FITAS CASSETE ou simplesmente FITAS (coloquialmente) ou CASSETES (pedantemente ou quando a intenção era apelar pro duplo sentido). Esses artefatos foram concebidos por uma civilização conhecida como Holanda.

Apesar de ser uma civilização muito distante da nossa, a Holanda conseguiu disseminar esses artefatos por todo o mundo, já que eles eram (e ainda são) a maneira mais conveniente de se PIRATEAR MÚSICA por meios analógicos.

Havia vários tipos dessas fitas, mas quem TAVA LIGADO sabia que as melhores eram as de Metal (tipo IV), seguidas das de Cromo (CrO2 - tipo II). As piorezinhas eram as tipo I, de Ferro, que você encontrava em qualquer padaria. Os leitores mais pedantes/nerds/chatos vão lembrar também das tipo III (FeCr), que existiram por pouco tempo e eram incompatíveis com a quase totalidade dos equipamentos.

Além das variedades de fitas e tipos de fitas, havia também uma variedade de sistemas de redução de ruído, que permitiam gravar as fitinhas com uma qualidade superior de áudio. Os principais eram aqueles desenvolvidos pelos Dolby Labs (aqueles do Surround): Dolby B, C e S. Cada um deles melhorava uns 10dB de sinal/ruído em relação ao anterior.

O Dolby B era o mais fraquinho deles, mas fitas gravadas com Dolby B podiam ser reproduzidas em uma série de equipamentos, inclusive alguns walkmen mais bacanas.

Fita Metal gravada com Dolby S era O OURO, virtualmente idêntica ao CD ou LP. Mas o equipamento para isso era bem caro.

Fora que piratear música nessa época era uma coisa intrigante: você tinha que botar pra tocar o CD ou LP que ía piratear (até o fim), depois tinha que VIRAR A FITA, e às vezes algumas das músicas ficavam pela metade em um dos LADOS da fita, ou nem cabiam mesmo.

Outra coisa curiosa é que, para você piratear música, você precisava conhecer alguém que tinha um original (CD, outra fita ou vinil), e mais: precisava convencer essa pessoa a emprestar pra você. Claro que dava pra copiar uma fita pirata também, caso seus amigos não tivessem nada original, mas geralmente ficava uma merda.

Comparando isso com os dias de hoje, percebe-se que tudo perdeu a graça. A molecada fica com esse negócio de aíPode etc, pirateando milhares de músicas digitalmente, enquanto que nos bons tempos o que havia era um HONESTO WALKMAN DA AIWA, fantástico, cheio de botões e que comia pilhas (não-recarregáveis, claro). E fitas, muitas fitas.

Raios, hoje não é preciso sequer CONHECER ALGUÉM que tenha algo (original ou não) pra você piratear músicas, e muitas vezes pirateia-se músicas que nem foram lançadas ainda. Essas crianças, elas não sabem o que fazem...

Tempos bons eram aqueles em que era possível emprestar um CD do Iron Maiden, do Led Zeppelin, do Simon Rattle, enfim, de algum músico cabeludo, passar no BAZAR e comprar uma fita FUJI METAL Z de 60 minutos por 4~5 reais (era CARA essa fita, mas tinha também a Sony SR Metal, que era geralmente mais barata e também muito boa), chegar em casa e gravar com cuidado, enquanto ouvia-se o disco todo...


Não que eu tenha feito isso alguma vez, claro. Eu sei todas essas coisas porque sou um rapaz estudioso, mas meu conhecimento é todo teórico, afinal, piratear música é e sempre foi algo muito feio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem-vindo de volta, senhor Thiago. Que bom que alguém ainda se lembra (teoricamente) da época das fitas K7.