terça-feira, novembro 02, 2004

Reflexões Insones

Estou sem sono (pra variar) e resolvi, portanto, escrever aqui algumas coisas que andei pensando sobre ela (sim!): a vida.

2004 até agora foi um ano brabo pra caramba, principalmente se levarmos em conta que faleceram uma série de pessoas cuja relevância para o mundo atual (ou, para o *meu* mundo, afinal sou eu quem está escrevendo aqui) é pelo menos bem grande: Henri Cartier-Bresson, John Peel, Ray Charles, Johnny Ramone, Marlon Brando, Fernando Sabino, Christopher Reeve, Richard Avedon...

E foi justamente uma frase do Richard Avedon que me marcou bastante, quando a li. Era algo assim: "... I know that the accident of my being a photographer has made my life possible."

Não só Avedon era um magnífico fotógrafo, que influenciou gerações, mas era também uma personalidade exuberante. Podemos dizer sem muita dúvida que pelo menos não lhe faltava coragem. Afinal, admitir assim tão diretamente, sem quaisquer misticismos ou floreios, que sua vida deve-se a um acidente, tem algo de heróico.

Investigando vulgar e velozmente os acontecimentos da minha vida até então, acho difícil ter uma opinião diferente dessa exposta pelo velho retratista. Claro, não se trata de acreditar em destino. Muito pelo contrário, viver é estar fazendo escolhas o tempo todo ("we'll draw a blueprint / it must be easy / it's just a matter / of knowing when to say no or yes..."). Mas sabe como é, acidentes acontecem. E muito. A ocupação máxima da vida, que ela desempenha com incansável furor, é surpreender os viventes.

Às vezes, o coelho nos é revelado em nossa própria cartola... Quantas vezes não percebemos aquele sentimento estrangeiro invadir-nos o coração, apenas para logo após nos desconcertarmos com o fato de que ele se originou de nossas próprias entranhas? Que controle temos sobre esse tipo de coisa? Sobre as paixões?

O que há de mais interessante é justamente a dificuldade que há em se admitir essas coisas, como fez o Avedon. Não sei se é porque esses sentimentos são sorrateiros, ou ainda porque temos uma necessidade de provar para nós mesmos que estamos o tempo todo no controle, mas muitas vezes estamos lá fazendo nossas escolhas de maneira a desprezar o novo (e muitas vezes difícil) caminho que tenha surgido. Sem falar na questão da segurança, já que muitas vezes a escolha está entre o certo e burocrático e o duvidoso e interessante.

É certo que essa natureza, a da vida, deprime facilmente alguns; mas a mim, ela dificilmente poderia ser mais motivadora.

A vida mata a pau. Ela vai derrubar seus preconceitos, todo o seu falso entendimento acumulado até agora, a sua bem cultivada erudição e conseqüente dureza, os seus livros, discos e filmes. Quando você menos espera.

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